quarta-feira, 17 de março de 2010

Se gostar diariamente: nem o papa

Eu enjôo de mim, tem dia que é assim, tem noite que é assim, tem tarde que é assim, têm semanas que são assim... E quem não enjoa de si mesmo? Existem dias que sequer queremos encarar o espelho, acordar é um caos, não pela preguiça já dissertada por este blog, mas simplesmente por saber que vamos encontrar a nós mesmos. Esse encontro pode ser procrastinado, adiado e quando não até rolar uma fuguinha, mas inevitavelmente cedo ou tarde teremos que encontrar conosco novamente. Doce ilusão achar que nosso próprio encontro pode ser protelado, só aumenta a repulsa de quando vier acontecer. Agora meditemos em algo: pra que o martírio pessoal e eventual de nos sermos a nós mesmos?

Não somos sinceros conosco, certa vez li que diariamente contamos um mundaréu de mentiras, particularmente não tenho muita facilidade em mentir, mas fatalmente algumas escapam, geralmente para sermos aprovado, mas o que me levou a pensar sobre mentiras foi um decorrer do dia em que resolvi entender a mentira estatisticamente, e percebi que o maior agente receptivo de nossas “inverdades” somos nós mesmos. Atordoante, mas a maioria de nosso discurso falso é enviado a nós mesmos e muitas vezes não necessariamente no plano falado.

É medonho se encarar, é atordoante ser a gente mesmo, muitas vezes nossas mentiras chegam a ser tão reais que nós mesmos acreditamos nelas, somos ludibriados por nossos próprios golpes. Sei que existem pessoas que não acreditam em doutrina, e necessitam de provas empíricas, ok! Existem pessoas que notoriamente tem um destaque financeiro maior (no meu caso, a maioria) e para não parecer alheio ao caviar arrotado, acredita que tem o mesmo potencial, sabe do que falo.

Já notou que quando algo é falado sobre nós, que nos desmereça, mesmo que seja insignificante, rapidamente temos o cuidado de remediar? Mas, se algo que nos engrandeça e que seja inverídico, a gente não tem preocupação em alterar. A mentira está nos dois casos. Não temos preocupação com a veracidade, temos preocupação com o status. Nossa preocupação é saber o que vão pensar de nós, isso é o nosso tiro no pé, isso explica de forma tão clara como o sol do meio-dia o porquê de sazonalmente termos asca de nós mesmos, vivemos num mudo paralelo, montamos nosso conto de fada particular e não medimos conseqüências, mas a vida cobra, o bom senso escondido em algum lugar suspira, e nesses dias a gente não se suporta, a realidade é insuportável.

Não querendo refrescar, mas cá comigo, mesmo em dias de trevas, dias tensos e densos, ninguém teria coragem de ser outra pessoa, ninguém tem coragem de abrir mão dessa insanidade de sermos nós mesmos. Você a priori deve estar discordando, já refuto, você até gostaria de trocar de situação: ser rico como, bonito como, saudável como, mas ser outra pessoa, isso não, temos desejos de mudança pelo nosso egoísmo (este mesmo sentimento que você acredita estar isento), gostaríamos de mudança de lugar e não de pessoa.

A vida é não é um lugar fácil de viver, e pasmem, nossos mais perigosos inimigos somos nós mesmos no reflexo de nosso egoísmo e cobiça, odiar-se e enojar-se diariamente pode parecer algo repudiável, discordo, pode ser o sintoma de auto-mentiras, sim, fato. Mas isso nos faz movimentar, nosso egoísmo é a causa de nosso engrandecimento e ascensão. Não se engane, egoísmo é como colesterol, tem o bom e o mau, qualquer ferramenta em nossas mãos pode ser uma máquina mortífera ou a oportunidade de fazer uma futuro mais próspero. Minta pra você, enoje-se de você, só tenha o cuidado de cultivar uma grande virtude: a de fazer suas fraquezas ferramentas e oportunidades para melhores mudanças, afinal, nossas deformidades serão eternas, e naturalmente não querer ser você será um exercício mais freqüente do que imagina.

Em dias de enjôo pessoal, leia-se oportunidade de mudança.

Um comentário: