sábado, 13 de março de 2010

Superar? O que é isso?

No momento em que escrevo este texto estou no ônibus indo para minha casa em Jaú, passando exatamente na Marginal Tietê, engraçado que o cheiro peculiar do rio não está mais tão intenso, graças a Deus e a milhões de reais investidos na despoluição.

Essa semana São Paulo foi mais fácil pra mim, achei que foram dias de superação, depois de ter escrito sobre "Sonecas e Sonhos" me senti mais motivado, auto-motivação, tomara que seja um dom meu. Mas nem tudo são rosas, mesmo sendo uma semana mais interessante, tomei uma “pancada” emocional, e desde logo peço perdão aos meus leitores, porque embora inspirado, acredito que não terei aquela pontinha de ironia que temperam os textos, preciso desabafar, e peço o ouvido e a compaixão sua.

Quero falar sobre superação, quero meditar sobre ultrapassar barreiras, sobre ter que “parir” forças de onde emana em abundância falta de motivação. Superação é dom para poucos, li certa vez que cerca de 75% de coisas desastrosas que esperamos acontecer, não acontecem, e 15% do restante pode ser evitado por ação nossa. Você há de convir comigo que se existe um lugar que não jogamos nossas esperanças são em estatísticas, mesmo porque nossos professores de matemática nunca nos inspiraram confiança, e mesmo que tivéssemos dons matemáticos como Pitágoras, a nossa humanidade digna de Murphy acreditaria que os 10% restante de possibilidade seriam imensos. Enfim, esperar o bom sempre é uma ação heróica.

Quinta-feira, minha mãe foi ao médico, e o que não esperávamos aconteceu, depois de muito tempo que retirou sua tireóide, apareceu um nódulo maligno em sua garganta, sim, acredito que entendam o que é isto. Quero ressaltar a heroína que minha mãe é, agüenta muitas coisas, sempre tem palavras de esperança, sempre bonita e muito preocupada com sua família, certamente tem uma função moderadora em casa, não é turrona quanto meu pai, nem “omisso” como meu irmão (quem o conhece, sabe) e também não é desesperada e impulsiva como este que vos escreve, posso adjetivá-la como o ponto de equilíbrio de nossa família. Minha mãe tem a função de deixar as coisas andarem mais pacificamente. Mulher cristã, temente a Deus e que se afasta do mal. Poderia até dizer uma ou duas falhas dela, mas se faz desnecessário, porque se apagará diante de suas qualidades expostas.

Pergunto pra mim mesmo, já que tenho certeza que Deus a isso não me responderá. Por que justo ela tem que passar por isso? Por que justo o arrimo de nossa vida tem que ter momento tão dolorido. Olhando para a força dela posso ver que mesmo abatida, terá seu lugar de vitória, mas será que tanta dor e possíveis desesperos são tão necessários para as provas vitais? Quando digo que Deus não me responde, não me ponho em lugar herege, não, muito pelo contrário, não espero de Deus nada além da graça, espero sim lutas, dificuldades para que nosso caráter seja forjado, mas existem coisas de tão alta magnitude que fogem do meu entendimento racional.

Se eu pudesse, eu trocaria de lugar, não por falso moralismo, nem por clichê messiânico, jamais, talvez não tivesse a mesma força e muito menos a mesma garra, mas por uma questão de compensação de inspiração de vida, poria minha mãe em seu trono para que ela pudesse sempre ter seu papel de rainha, não que esta dificuldade tire sua majestade, isso é vitalício. Este sentimento é para demonstrar que a pessoa menos merecedora deveria ser poupada.

Sei que ainda é começo, sei que muitas águas vão passar, sei que podemos rir em breve, ou aguardar mais um pouco, tenho certeza que independente do tempo, não serão tempos fáceis, mas quero me ater a esperança, quero ser antes dos outros um exemplo de superação.

E essa tal superação? Não consigo entender a superação apenas como uma vitória depois de fatos acabados. Superar não deve estar vinculado necessariamente a uma finalidade, não deve ser uma virtude que retrate um resfolegar final: “ufa”, impossível conceber a idéia, não há mérito nisso, não há virtude em sobreviver tempos complicados sem uma postura mais positiva, passar pela dificuldade de forma normal não nos qualifica nada mais do que simplesmente normais. A meu ver, superar é passar pelo momento mau com posturas diferentes das “apropriadas”, fugas do desespero e termos sempre palavras de conforto. Se a dor é inevitável, ideal é tentar lição dela, já que não temos gestão sobre ela, que mudemos as atitudes, já que nessas temos total gestão. Temos que nos condicionar que por mais obscuro, mais incerto, mais dolorido, um propósito existe. Não somos anônimos, fomos projetados, fomos arquitetados, não é possível que o acaso tenha nos trazido aqui.

As ironias são grandes, este dilema é pessoal, mas tenho certeza que se eu sentar com você, você terá algo para me contar que parece ser uma ironia das grandes. Sei que não estou sozinho neste barco, todos nós estamos sujeitos a atuações irônicas do destino, que choremos o tempo necessário, mas que nos esforcemos para levantar no outro dia, lavar o rosto e não se dar mais ao luxo de recairmos em nossos medos e falta de esperança.

Mãe, infelizmente esse é o começo de algo muito dolorido em nossas vidas, e mesmo achando a maior injustiça do mundo, prefiro não me render a este pensamento e assistir de camarote o show de superação que nos dará. Por certo, a meu ver, você é a menos merecedora de um momento como este, mas sei que nenhum dos “mais” merecedores saberia driblar com tanta ousadia certeira que você nos mostrará. Ao invés de me ressentir, vou olhar para você e aprender mais um pouco de como devo me relacionar com essa loucura chamada vida.

Vamos lá? Hoje eu sou o egoísta diferente: gostaria que essa dor fosse só minha.

Ah, o egoísmo do amor.

3 comentários:

  1. Não adiantaria nada você trocar de lugar comigo, esqueceu que sou sua mãe e como tal iria querer a mesma coisa? Sem contar que se você é um egoísta nato, antes de nascer uma egoísta formada estava te dando a luz, valeu filho, beijos te amo! bell...

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  2. É engraçado o pensameto que me vem a mente qdo penso em sua mãe nesse contratempo... Em outras ocasiões, seria pessimista, ou no maximo indiferente, com sua mãe, sinto esse mesmo tom de superação, de vitória... Acredito que pelo fato de nuuuuuuuuuuuuunca vermos a Bel esmorecer, faço meus os seus pensamentos! Vai que é tua Bell. Alex

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  3. Bell... mulher de garra e de coragem; e como seu próprio nome diz: mulher que se dedica a Deus. Essa superação será apenas mais uma pra sua coleção. Tenho orgulho de vc sogra!!!rs bjos

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