quinta-feira, 8 de julho de 2010

Conto: Paixão, lições e dor (parte 2)

Engraçado como muitas vezes o tempo vira e nos pega de surpresa, criei minha força particular, afinal fazia três meses desde que Raquel e eu tínhamos terminado nosso relacionamento, e nesse meio tempo nenhum contato. Mas o tempo vira, e muitas vezes o sol escaldante se transforma num gélido vento.

Era terça-feira, a noite parecia mais escura, uma ironia óbvia como se a noite previsse o futuro dos meus sentimentos. Recostado na cabeceira da minha cama, lendo Dan Brown – fugia de histórias de romance – tocou o telefone. Número restrito. Telemarketing essa hora? Deixei tocar. Insistiu. Atendi. A pessoa do outro lado foi responsável pelo tempo frio.

- Raquel? Oi... – Busquei palavras, em vão.

Raquel me ligou sob o pretexto de saber como estava Hércules, um dálmata de longas pernas e que vivia encardido por mais banho que tomasse, tínhamos adotado ele no nosso terceiro mês de namoro, embora Raquel nunca tenha gostado muito dele, já que ele tinha um sério vício de sujar sempre suas roupas ao cumprimentá-la, Hércules era uma ponte para ela propositalmente me mostrar algo de sua vida: ou seu sucesso, ou sua incerteza, ou sua felicidade ou o que eu mais temia: um possível recomeço. Nossa conversa não saiu do zero a zero. Nossa intimidade não era mais a mesma, falamos sobre trabalho, sobre a pós-graduação e eu não pude poupar a piadinha que sempre fazia: pedir pensão alimentícia para o Hércules, às vezes achava que ele era um leão vestido de dálmata, maior apetite, impossível. Convidei-a para visitá-lo, afinal era sua mãe, para meu agrado ou desagrado, ela aceitou o convite. A conversa não durou mais de cinco minutos, pelo menos no telefone ela foi curta, mas garanto que ela durou muito tempo dentro de mim. Ok, fica assim então! Já vou avisar o Hércules que sua mãe vem vê-lo! Tchau.

Dizem que quando queremos sonhar com algo devemos mentalizar bastante o objeto do sonho, ou ainda ver um filme que arrepie os cabelos. Na intenção de me poupar de sonhos com Raquel vi um filme de terror. Confesso que dormi com medo, filme maldito, mas o sonho sabe priorizar os fatos.

Sonhei que estava longe, longe mesmo, num lugar parecido com um jardim apenas em duas cores, verde e vermelho. Não me via no sonho, só via uma pessoa, Raquel, ela não parecia andar, parecia flutuar, seus cabelos pretos tomavam formas encaracoladas nas pontas, e conforme ela vinha em minha direção eles dançavam como se me convidasse a tocá-los, a cheirá-los. Seus olhos, castanhos claros eram as portas desse convite. Não havia palavras saindo de sua boca, ainda assim as palavras eram claras: “seja meu”. Como um mantra, uma boa música, aquele momento começou a chegar a sua apoteose. Vi seu rosto, perfeito. Seu queixo fino e seus olhos, que ao rir fechavam parecendo de uma gueixa. Um sorriso arrebatador. Senti-me restaurado, novo. Repentinamente meu rosto começou a ser tocado por alguém que não via. Estranho. Algo úmido e insistente. O romantismo parecia acabar com esse toque. Foi então que acordei! Maldito Hércules, estava me lambendo pedindo ração. Quem manda ter um leão metido a dálmata de estimação? Oito horas! Atrasado para o trabalho. Obrigado Hércules.

Vesti-me correndo, gritei para minha mãe dar comida para o Hércules, antes que ele devorasse um ser humano, e agradeci ironicamente por ela ter me acordado. A caminho do trabalho pus a pensar sobre o sonho, inconseqüentemente um sorriso se formou no meu rosto, sabia que teria uma saga épica a partir de então, minha razão e minha emoção. Ia precisar de um árbitro para esse duelo, um césar, Clara, ela veria melhor. A noite chegou mais uma vez, rapidamente como nunca.

- Alô? Clara... Tenho uma ótima ou péssima notícia, você quem vai avaliar.

Fazendo muxoxo, Clara perguntou.

-Raquel?

- Bingo!

continua...

3 comentários:

  1. esse conto ainda vai dar o que falar... parece um filme que queremos ver logo o final e ele nunca chega..rs
    Parabéns amigo..

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  2. eu quero ler o final!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


    Ass Marcelo de Ribeirão Preto

    ps: esqueci minha senha na conta do google

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  3. Ta escrevendo muito bem, hein?

    Raquel é o nome do meu primeiro love. (:

    by Trôlóló

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