quarta-feira, 14 de julho de 2010

Conto: Paixão, lições e dor (parte 4)

Depois do trabalho, me atrasei por alguns detalhes aqui, outros acolá. Corri para a casa. Assim que cheguei, corri para o banho, liguei para Clara para avisar que atrasaria alguns minutos. Ela não atendeu, mandei um torpedo e corri para baixo do chuveiro. Ao enxaguar a cabeça e cantarolar uma música qualquer ouvi um som vindo da janela, que dava para a rua, pareciam sirenes, pensei comigo, tomara que minha casa não esteja pegando fogo, não seria muito nobre sair pelado na rua. Ri sozinho.

Clara havia me ligado a tarde e dito que tinha escolhido um restaurante de comida árabe para nossa sessão terapêutica – era com eu chamava nossas programações com cunho de desabafos pessoais – apesar da minha tentativa de fazê-la individual, Clara havia escolhido o que eu mais gostava, eu sabia que ela só comeria um quibe. Não discuti, apenas aceitei.

Depois do banho, enquanto me vestia para sair, peguei meu celular e vi que havia insistentes tentativas de contato, meu telefone estava no silencioso, não conhecia aquele número, mas retornei.

- Alô? – alguém ofegava do outro lado, bastante desesperado.

- Oi, você ligou para mim? Precisa de... – fui interrompido com uma história avassaladora, uma estaca veio contra meu peito.

Vesti a primeira camiseta que encontrei pela frente, sai correndo descalço do meu quarto, a escada para a sala parecia não ter fim, então pulei os últimos degraus. Enquanto ainda estava na sala gritei por minha mãe, apenas Hércules respondeu. Droga.

Passei apressado pelo quintal, e desci para a casa de Clara. Por quê? Como? Não... não! Aquele telefonema tinha me trazido questionamentos que seriam quase impossíveis de responder.

Cheguei rapidamente à casa de Clara, havia uma movimentação muito grande, pessoas tentando ver o que havia acontecido, comentários e até alguns repórteres. Os policiais seguravam a passagem para que ninguém entrasse na casa e certamente para que nenhum repórter sensacionalista usasse a fragilidade do momento para aumentar sua audiência. Gritei por Rose, a mulher que havia falado comigo no telefone. Ela veio ao meu encontro, incrivelmente ela parecia me conhecer. Rose se apresentou, ela era a irmã mais velha de Clara, apesar de ser bonita, tinha uma cara típica de uma mãe que isolou sua vida para cuidar de seu marido e filhos, suas rugas se acentuavam bastante, parecia atordoada, e seus olhos denunciavam seu choro. Então rasgou a falar.

- Cheguei aqui por volta das sete horas. Chamei por minha mãe, que não atendeu. Então percebi que a porta estava destrancada com a chave para o lado de fora. Entrei chamando por Clara – seu choro interrompeu a história, eu não sabia o que fazer, então Rose respirou fundo e continuou. – Ouvi uns barulhos que vinham do quarto da Clara, fui até lá, quando entrei, quase desmaiei. Clara estava jogada no chão, completamente ensangüentada, seus olhos quase não tinham vida. Minha primeira reação foi falar com ela. Clara... Ah Meu Deus. Então me equilibrei e liguei para a polícia. Ah! Quem faria isso com ela?

- Mas Rose, – perguntei estarrecido. – Ela está bem? Posso vê-la?

- Os médicos estão lá, fazendo um atendimento de emergência, preparando para levá-la ao hospital, pediram um tempo por enquanto. Por sorte ela sobreviveu. A polícia suspeita de latrocínio, mas ainda não conseguimos ver se algum objeto sumiu. Eu te peço desculpas por te ligar assim, mas o seu número era a última ligação do celular dela, e...

- Rose, sem problemas - interrompi.

Então ela se calou e chorou em meus braços. Olhei então para dentro da casa e vi em um canto um casal que se abraçava calado. Era o pai e a mãe de Clara e Rose, que pareciam inconsoláveis.

Rose pediu para que os policiais me deixassem entrar também. Sem saber o que fazer na casa, andava em círculos pela sala, meus pés descalços sentiam o tapete fofo que até então era o mais perto de algum conforto que poderia sentir.

Depois de alguns minutos metidos a horas, Clara saiu desacordada de seu quarto, deitada em uma maca, cercada de pessoas vestindo verde, talvez enfermeiros. Não consegui ver seu rosto. Mas sabia que algo não estava bem. Atordoei. Não me lembro como, mas quando dei por mim estava sentado em uma poltrona no hospital Madre Tereza.

Olhei para o lado, vi um rapaz que chorava muito. Quem era ele? Desliguei novamente, pensando em quem faria isso com Clara. Cochilei, quebrando a rotina meu alvo de sonho deixou de ser apenas Raquel, Clara também participou.

continua...

4 comentários:

  1. opa! dias e noites absortos em nossos seriados renderão um bom resultado, rsrsrsrsrsrs...

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  2. uau!!!
    Será que seu primeiro livro será um romance?!?!
    Parabéns, nao consegui parar até ler todos! Só uma observação: Esse cara dorme demais....até no hospital!!!!
    rs....vc é demais!
    KATY

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  3. Qunado a gente dorme o espirito sai do corpo. Portanto, a gente nunca para.
    O teSto ta ficando agitado.
    (:

    By JaKaré

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