Todos os dias nos deparamos com um boom da indústria da fé, herança da Reforma Protestante, o pensamento teológico nunca foi tão antropocêntrico: eu posso, eu sou, eu vou e passarei por cima de tudo para minha finalidade, Maquiavel jamais foi tão entendido como pelos cristãos. Paradoxo. A vida é feita de paradoxos. O efeito não está só no cristianismo, nas ruas, no misticismo oriental, nas faculdades, na política, em todo e qualquer canto a ênfase no poder e potencialidade humana é grande, existe uma deidade do ser humano, confesso, algumas vezes temerosas, mas tentemos acreditar que tenha o intuito de extrair o melhor de cada um. Acabei de ler o último livro de Dan Brown, e esse pensamento estava assustadoramente presente.
Diante dessa filosofia “teo-antropocêntrica“, eu que não ouso ser diferente, me sinto revitalizado diariamente ao acreditar no poder de minhas mãos, atrelado ao que o Papai do Céu pode fazer por mim. Mas...
Existem coisas que nos tiram do centro, que nos dão a triste sensação de falta de controle, impossibilidade e de estar de mãos atadas.
Domingo estava voltando para casa, ao descer do ônibus, fui furtado! Levianamente alguém retirou do meu bolso a minha carteira, depois de uma olhadela do infrator, ele se denunciou implicitamente, tarde demais para mim. Fora do ônibus, apenas com uma tese da possibilidade do reconhecimento do infrator baseada em um olhar torpe. Um delay digno de um telefone público a ficha me paralisou por alguns segundos.
Que terrível!
Que sensação horrível é saber que não podemos fazer nada. Administrativamente estou okey, fiz o B.O., porém confesso que psicologicamente ainda resta uma pontada aguda. Não pelo perigo, não pelo furto em si, mas pela sensação de impotência. Isso desmonta qualquer um!
Nossos projetos são ricamente regados a motivações pessoais e externas, os acervos e palestras motivacionais atingem uma gama surpreendente seja nos vídeos online, em livros, para todos os lados sempre há alguém que profissionalmente ou não, nos empurra e faz tirarmos forças muitas vezes da própria fraqueza. Existem limites que são superados, acredito piamente nisso, somos uma raça extraordinária, com movimentos de renovação e adaptação apoteóticos.
Porém existem barreiras pós-limites, intransponíveis. Sério! E quando chega o fim da linha, o jeito é se conformar e num golpe nostálgico entender: Por mais que acreditamos ser "pequenos deuses", isso não afasta de nós o caráter de sermos finitos.
Menos pretensão, mais realismo! Vamos tocar a vida, documentos, eu faço outros, mas a ferida da impotência, certamente não encontro seu remédio no Poupatempo.