quinta-feira, 11 de março de 2010

Sonecas e sonhos: duelo de titãs

Mais um dia, e o tempo passa, a gente vai ficando velho. Confesso que hoje não é o melhor dos meus dias para escrever, relutei buscando inspiração, mas não teve jeito, olhei embaixo da cama, atrás da cortina... Nada, levantei o sofá, achei uma moeda de cinco centavos, mas a tal da inspiração não foi encontrada, essa situação de branco me faz pensar e entender que nem sempre as coisas que necessitamos virão assim como na facilidade da primeira vez, muito menos nas horas que mais precisamos delas, então aí cabe a nós mesmos acharmos solução para nossas vidas, mesmo que a vontade seja estagnar.

Hoje aconteceu comigo um caso interessante, tive uma noite de aproximadamente quatro horas de sono, ok, sei que tem pessoas que vivem assim rotineiramente, mas não é meu caso, e se não entende minhas limitações caia fora do meu blog (surtos egoístas). Recompondo-me, hoje acordei por volta das 5h30, e o mais engraçado é que nossa visão de futuro é aguçada nesse momento, que atire o primeiro despertador aquele que acorda e não pensa na hora em que vai poder dormir novamente, isso é uma mal comum, ou eu sou vagabundo por natureza. Antes propriamente de dizer o meu “causo” matinal, faço necessário o comentar de uma mania maligna. Sabemos que manias matinais são muitas, e se formos elencar todas, certamente teríamos inúmeras loucuras: comer tapioca de manhã, farofa com café, pasmem, encontrei isso na minha família, mas a pior de todas é a minha (ou acha que eu sairia perdendo?), meu despertador é sempre programado meia hora mais cedo, todo dia. Se eu tiver doze horas de sono, lá está ele, uma hora de sono, lá estará ele todo antecipado. Se revolte quem acha isso o cúmulo, mas isso é mania de pessoas bem-sucedidas. Provo por a+b que estou correto: Depois do advento do celular ninguém usa mais o tal despertador convencional, e tenho certeza que seu celular tem uma programação que se chama soneca (ou variantes)! Ahan, quem você acha que projetou isso? O camelô que você compra a capinha “prástica” pro seu iPhone falso? Não, o dono da Nokia que pensou nisso: ou você acha que ele na Finlândia ao ouvir o NokiaTunes ele pula da cama naquele frio digno de pingüim e sai todo disposto pensando em como a telefonia mundial precisa dele? Querido leitor, aquele soneca cansa de despertar, a maior farsa é a que os homens de sucesso acordam cedo, até pode ser que existam alguns, mas a maior verdade é que os homens de sucesso usam o soneca. Soneca: arma de sucesso.

Focando: hoje, depois do duelo entre despertador e Davi, levantei. Olhei bem pra cama, abri a janela e aquela sensação de que se fosse à faculdade perderia o melhor do sono, longe de casa, longe das expectativas paternas, resolvi voltar a dormir. Num surto instantâneo, pulei da cama, e decidi encarar os vinte minutos de lotação e os trinta minutos de metrô. E olhando para isto não conote com simplicidade, esse trajeto é uma saga épica que particularmente gostaria que Tarantino produzisse em um de seus filmes.

Assim que passou a sensação de perda e despertei, filosofei sobre as perdas, e diante de um fato aparentemente simples consegui atrelar essa mesma posição vagabunda aos grandes sonhos que temos. Sonhar é nosso, sonhar é coisa de quem vive. Sonhar é coisa de gente, de humano, mas o percentual de realizações é muito baixo. Quantas coisas projetamos? Quantos sonhos são meticulosamente esquematizados e até lançados em cronogramas? E a culpa das frustrações? A quem podemos atribuir? Não quero dizer que podemos lançar sobre pessoas, sabemos que nós somos responsáveis pela grande maioria de nossos erros. Quero questionar posturas.

Diante de pequenas coisas, temos a tendência voraz de negociá-las, perante mínimas responsabilidades não titubeamos nada para transformá-las em coisas facultativas. Por uma relação de escala de valores, o que nos faz acreditar que merecemos o grande, se as pequenas coisas não têm tanta importância? O que garante o zelo de imensas conquistas se no pouco vital que é usado para nos treinar fazemos vistas grossas?

Infelizmente nossos sonhos só focam o bônus e não o ônus, até sabemos que temos que transpirar, correr, matar um leão por dia, ser o melhor em tudo e melhor que todos, mas só temos a ciência disto, e isso muita vezes não entram no nosso cronograma. Doer faz parte do sonho, sofrer faz parte do sonho, levantar cedo, deixar confortos, passar apertado, diminuir o gasto, pegar lotação, se “enlatar” no metrô, não ter tempo para uma coquinha, são pequenos gestos doloridos que precedem sucesso.

É, vamos viver intensamente, buscando o nosso lugar, nossa posição, talvez não consigamos chegar ao topo, mas isso não faz de nós menores, faz de nós pessoas com postura, e isso será levado para posteridade. Pequenos luxos são aceitos esporadicamente. Tentei puxar alguns e trazê-los a memória. Sem êxito. Por enquanto, o soneca meia hora antes do seu horário deve ser seu maior desfrute.





ps: este texto foi escrito ontem dia 10 de março de 2010

Um comentário:

  1. Parabéns amigo, vc tem sido exemplo de alguém que renuncia a todo tempo pra alcançar seus objetivos.

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